A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) foi palco, na manhã desta quarta-feira (22) de uma audiência pública para discutir a viabilidade de um antigo sonho da juventude e educadores do Subúrbio Ferroviário de Salvador: a implantação de um campus da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) na região. Proposta pelo deputado Robinson Almeida (PT), o evento reuniu representantes da própria Uneb, governo do estado e da sociedade civil, marcando um avanço significativo em direção à democratização do acesso ao ensino superior público na capital baiana.
Ao final da audiência pública, os participantes estabeleceram a criação de um grupo de trabalho que terá a responsabilidade de elaborar e acompanhar o projeto de implantação do campus da Uneb no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Esse grupo será coordenado pela reitora da Uneb, Adriana Marmori, que esteve presente no evento da ALBA.
“Esse grupo vai envolver a universidade, a Secretaria Estadual de Educação, o Poder Legislativo e comunidade do Subúrbio que vão se debruçar sobre a concepção de uma campus da Uneb na região”, explicou Robinson Almeida.
A ideia, segundo ele, é que no início do ano que vem seja realizada uma nova audiência pública para que já sejam discutidas amplamente as propostas elaboradas por esse grupo. Segundo o parlamentar, o grupo será plural, “mas também operacional para entregar propostas objetivas”.
Antes, ao dar início ao evento, Robinson destacou a necessidade de suprir as “grandes lacunas na oferta de ensino público superior” no Brasil e na Bahia. Ele resgatou a trajetória das universidades no estado e lembrou, que durante mais de 200 anos, a Bahia teve apenas a Ufba como universidade, até a ampliação do ensino superior federal nas últimas duas décadas.
“Há 20 anos, a partir do governo Lula, essa realidade começou a ser modificada, com a ampliação do ensino superior federal na Bahia, incluindo a Universidade do Vale do São Francisco (Juazeiro e Petrolina), a UFRB, e a Unilab (Luso-Africana em São Francisco do Conde), observou. Ele lembrou ainda que, durante o governo Dilma, surgiram a Universidade Federal do Sul (Itabuna e Porto Seguro) e a Universidade Federal do Oeste da Bahia (Barreiras).
Por que uma universidade no Subúrbio de Salvador? O deputado responde essa questão lembrando que o Subúrbio Ferroviário abrange 20 bairros e tem cerca de 600 mil pessoas. Almeida justificou a escolha, destacando também a carência de oferta de ensino superior na região e a dificuldade de acesso das comunidades a universidades distantes.
Última a falar na audiência, a reitora Adriana Marmori afirmou que a implantação de um campus da Uneb no Subúrbio é uma “pauta é extremamente legítima e importante”. Marmori disse que não é por acaso que ela, uma mulher negra, é reitora da Uneb. E pontuou que o propósito de discussão da implantação de um campus da Uneb não é aleatório. “Nós temos um cenário político e nacional favorável”, argumentou.
Para a reitora, as universidades públicas do país passaram por um “bastante doloroso em que foram colocadas em xeque”, quando foram descritas como criadoras de balbúrdia e não produtoras de ciência. “Mas nós sobrevivemos enquanto universidade pública, através de seus feitos, do ensino, da pesquisa e da extensão”.
Adriana Marmori lembrou que a Uneb foi pioneira na implantação de cotas sociais nas universidades e que foi criada e idealizada numa concepção de “multicampia” já numa perspectiva de interiorização. Agora, segundo ela, é transformar a Uneb numa universidade das periferias. “Que essa Casa Legislativa possa se debruçar junto conosco sobre os projetos neste sentido”, conclamou. Sobre o campus da Uneb no subúrbio, ela explicou que o primeiro passo deve “ser ouvir a comunidade do subúrbio e saber quais cursos ela almeja.”
A proposta também encontrou apoio no discurso do coordenador executivo do programa e projetos da Secretaria de Educação e ex-reitor da Uneb, José Bites de Carvalho. Ele parabenizou o deputado pela iniciativa e enfatizou a importância de avançar na oferta de cursos de educação superior na Bahia.
Bites de Carvalho apresentou dados que revelam a necessidade de expandir substancialmente a oferta de vagas nos próximos anos, destacando a importância de estruturar o projeto de forma viável. E se comprometeu pessoalmente a trabalhar junto à secretaria para consolidar a proposta e viabilizá-la. “Essa é uma discussão fundamental para a Bahia e para os jovens, pois estamos efetivamente falando de inclusão, formação das pessoas e da possibilidade efetiva de sucesso nas vidas, tanto pessoal quanto profissional”.
A diretora do Colégio Nelson Mandela, professora Olívia Costa, e o representante do Movimento em Defesa da Universidade do Subúrbio, Professor Newton Júnior, também se pronunciaram durante o evento, ressaltando a importância da implantação do campus e compartilhando experiências pessoais relacionadas à busca por ensino superior na região.
Já o vereador Tiago Ferreira (PT) enfatizou a necessidade de oferecer oportunidades aos jovens do subúrbio, evitando que a falta de perspectivas os conduza para a criminalidade. Ele destacou a importância de cursos profissionalizantes e implantação de escolas técnicas para atender às demandas da comunidade. Os vereadores Luiz Carlos Suíca (PT) e Augusto Vasconcelos (PC do B) também marcaram presença na audiência.